Em uma empresa de usinagem havia entre os trabalhadores um homem de meia idade com pouco mais de quinze anos de firma, sempre na mesma função de torneiro mecânico. Acontece que o gerente se aposentou e o homem viu nisso sua chance de promoção, uma vez que era, com certeza, o mais antigo funcionário da empresa. Contudo, para seu desapontamento, quem seu patrão escolheu foi um jovem que não tinha sequer seis meses de casa.
Durante uma semana ele amargou a escolha do patrão, até que não mais se segurou e foi em busca de seus direitos. Seu patrão, como sempre, foi muito atencioso:
“O que é que manda, seu Manoel?”
“Pois é, seu Onofre. Eu estou aqui para uma conversa meio chata...” – o homem tentava a melhor maneira de transmitir sua terrível reclamação. “É sobre o cargo de gerente... eu acho que... o senhor sabe...”
Sagaz como era de se esperar, o empresário percebeu o que o empregado queria e foi logo o interrompendo:
“Seu Manoel, espera só um instante. Antes que o senhor continue. Foi até bom o senhor vir aqui. Estou pensando em dar além do almoço já costumeiro, uma fruta de sobremesa para o pessoal. O que o senhor acha?”
“Eu acho a idéia muito boa, seu Onofre.”
“Pois é. Então. O senhor pode me fazer um favor e ir até o mercadinho da esquina e ver se tem algumas laranjas e quanto sai o preço?”
“Agora mesmo, seu Onofre.”
E lá se foi o bom homem.
Voltou dez minutos depois com a informação pedida. Não gostou de encontrar ali o (para ele antipático) novo gerente. O rapaz o cumprimentou, sem receber de volta a cortesia. Saiu em seguida.
O senhor Onofre pediu que o empregado se sentasse e recebeu deste a informação de que havia sim, laranjas no mercado e pelo preço de um real a dúzia. O patrão disse um “ótimo” e voltou ao assunto principal, o que havia levado o bom Manoel ali, de início.
Manoel falou o que havia de falar: que ele era o mais antigo na empresa, que era o mais dedicado, sem faltas, sem atrasos, muitas férias vendidas; o trabalho em si, era o melhor, pois tinha o menor índice de refugo, graças, claro, à sua longa experiência e dedicação. Sempre muito paciente, o senhor Onofre não o interrompeu ora alguma para contradizê-lo, porque não havia o que contradizer no que o homem falava.
Bons minutos mais tarde, Manoel finalizou o que havia para fazer com um ousado: “pois é, seu Onofre. É por isso que eu achei que o cargo de gerente...”
Não terminou de falar, pois alguém batia à porta e pedia entrada. Era o “inoportuno” novo gerente.
O jovem foi logo arrancando da sua prancheta uma folha de papel e estendendo ao chefe:
“Seu Onofre, aqui está o que me pediu. As laranjas são de boa qualidade e em quantidade suficiente para nos atender. Tomei a liberdade de cotar também o preço de bananas, pois nem todos nossos funcionários podem gostar de laranjas. Pela quantidade que precisamos consegui um desconto de trinta porcentos. Se for confirmado a compra, o senhor Aguinaldo, do mercado se comprometeu a mandar somente frutas de qualidade e fazer a entrega aqui. Ele aceita pagamento por cheque e, se precisar, pode esperar alguns dias para o depósito em alterar o preço. Eu anotei o telefone para confirmarmos o pedido!”
A princípio o inconformado Manoel não entendeu porque seu patrão mandara que o tal gerente fizesse a mesma coisa que ele havia feito, porém, enquanto o jovem ia relacionando tudo que havia feito de adicional ao simples pedido do patrão, o torneiro mecânico foi compreendendo o real motivo da escolha.
Moral da história: o sol nasce para todos, porém, a sombra é para quem pode e não para quem quer.
Retificação: desejar não é poder, mas o querer com fé, tudo pode.
Tirada sobre o querer (da natureza humana): já vi rato virar morcego, cobra virar jacaré eu nunca vi.
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