quarta-feira, 7 de setembro de 2011

MANDA QUEM PODE


Em uma empresa de usinagem havia entre os trabalhadores um homem de meia idade com pouco mais de quinze anos de firma, sempre na mesma função de torneiro mecânico. Acontece que o gerente se aposentou e o homem viu nisso sua chance de promoção, uma vez que era, com certeza, o mais antigo funcionário da empresa. Contudo, para seu desapontamento, quem seu patrão escolheu foi um jovem que não tinha sequer seis meses de casa.

Durante uma semana ele amargou a escolha do patrão, até que não mais se segurou e foi em busca de seus direitos. Seu patrão, como sempre, foi muito atencioso:

“O que é que manda, seu Manoel?”

“Pois é, seu Onofre. Eu estou aqui para uma conversa meio chata...” – o homem tentava a melhor maneira de transmitir sua terrível reclamação. “É sobre o cargo de gerente... eu acho que... o senhor sabe...”

Sagaz como era de se esperar, o empresário percebeu o que o empregado queria e foi logo o interrompendo:

“Seu Manoel, espera só um instante. Antes que o senhor continue. Foi até bom o senhor vir aqui. Estou pensando em dar além do almoço já costumeiro, uma fruta de sobremesa para o pessoal. O que o senhor acha?”

“Eu acho a idéia muito boa, seu Onofre.”

“Pois é. Então. O senhor pode me fazer um favor e ir até o mercadinho da esquina e ver se tem algumas laranjas e quanto sai o preço?”

“Agora mesmo, seu Onofre.”

E lá se foi o bom homem.

Voltou dez minutos depois com a informação pedida. Não gostou de encontrar ali o (para ele antipático) novo gerente. O rapaz o cumprimentou, sem receber de volta a cortesia. Saiu em seguida.

O senhor Onofre pediu que o empregado se sentasse e recebeu deste a informação de que havia sim, laranjas no mercado e pelo preço de um real a dúzia. O patrão disse um “ótimo” e voltou ao assunto principal, o que havia levado o bom Manoel ali, de início.

Manoel falou o que havia de falar: que ele era o mais antigo na empresa, que era o mais dedicado, sem faltas, sem atrasos, muitas férias vendidas; o trabalho em si, era o melhor, pois tinha o menor índice de refugo, graças, claro, à sua longa experiência e dedicação. Sempre muito paciente, o senhor Onofre não o interrompeu ora alguma para contradizê-lo, porque não havia o que contradizer no que o homem falava.

Bons minutos mais tarde, Manoel finalizou o que havia para fazer com um ousado: “pois é, seu Onofre. É por isso que eu achei que o cargo de gerente...”

Não terminou de falar, pois alguém batia à porta e pedia entrada. Era o “inoportuno” novo gerente.

O jovem foi logo arrancando da sua prancheta uma folha de papel e estendendo ao chefe:

“Seu Onofre, aqui está o que me pediu. As laranjas são de boa qualidade e em quantidade suficiente para nos atender. Tomei a liberdade de cotar também o preço de bananas, pois nem todos nossos funcionários podem gostar de laranjas. Pela quantidade que precisamos consegui um desconto de trinta porcentos. Se for confirmado a compra, o senhor Aguinaldo, do mercado se comprometeu a mandar somente frutas de qualidade e fazer a entrega aqui. Ele aceita pagamento por cheque e, se precisar, pode esperar alguns dias para o depósito em alterar o preço. Eu anotei o telefone para confirmarmos o pedido!”

A princípio o inconformado Manoel não entendeu porque seu patrão mandara que o tal gerente fizesse a mesma coisa que ele havia feito, porém, enquanto o jovem ia relacionando tudo que havia feito de adicional ao simples pedido do patrão, o torneiro mecânico foi compreendendo o real motivo da escolha.

Moral da história: o sol nasce para todos, porém, a sombra é para quem pode e não para quem quer.

Retificação: desejar não é poder, mas o querer com fé, tudo pode.

Tirada sobre o querer (da natureza humana): já vi rato virar morcego, cobra virar jacaré eu nunca vi.